quinta-feira, 19 de julho de 2012

A alma aberta de Fernando Brant



Portal Cronópios - http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5409
30/05/2012

Por Jorge Sanglard



Mais que um "escritor de canções", uma pessoa que descobre as palavras que devem se casar com a música, Fernando Brant é um poeta e, como ele mesmo diz: "poeta e leitor de poesia têm marca indelével na pele e na alma". Parceiro de Milton Nascimento em pérolas da MPB, Fernando Brant também é um observador atento de seu tempo e está lançando o livro "Casa aberta" (Edições Dubolsinho), reunindo crônicas publicadas ao longo dos últimos cinco anos no jornal Estado de Minas.
Inteligência, perspicácia e opinião estão impregnadas em cada crônica escolhida para compor o livro. Brant não se omite, abre a alma e assume cada posição adotada em cada um de seus belos escritos. Se o silêncio é a cara de Minas, como sentencia numa de suas crônicas, o autor sabe muito bem que a força da palavra rompe barreiras e fronteiras: "No princípio era o Verbo e a palavra existe para ligar os homens, para que eles entendam o que os cerca e se entendam. Usar bem a faculdade de se exprimir em  palavras, no entanto, é um desafio. Dizer o exato no momento em que deve ser dito é uma qualidade de poucos. E não expressar na hora devida o que deve ser revelado é uma fraqueza que nos leva à tristeza e ao vazio. O trato com as palavras é uma luta que não termina nunca e do bom embate que temos com elas vai depender nosso relacionamento com nossos semelhantes".
Assim, além de "escrever palavras que falam de tudo o que interessa ao ser humano, do que toca a emoção dos que permanecem sensíveis, e casá-las com melodias, criando as canções", que ganham Minas, o Brasil e o mundo na voz de Milton Nascimento, o Bituca, desde os tempos do Clube da Esquina, Brant se revela no livro um cronista afiado e afinado com seu tempo. Principalmente, em tempos onde "as práticas políticas, infelizmente, apontam para o desrespeito, a mentira, o marquetismo, a incompetência e a corrupção", as pessoas com autêntico espírito público têm pouco espaço no mundo político brasileiro e mundial, ressalta o cronista.
Caldas, Diamantina, Belo Horizonte, Ouro Preto, Três Pontas, Barbacena, Juiz de Fora, Dublin, Porto, Lisboa, Auvers, Paris, Madri, Bagdá, Nova York, e muito mais de Minas e do mundo permeiam as crônicas do livro e convidam o leitor para um mergulho fundo nas histórias e nos causos escritos com emoção à flor da pele e no calor da hora. Sobre Juiz de Fora, mais que uma declaração de amor. Intitulada "Em Juiz de Fora, eu sou de dentro", uma crônica atesta que Fernando Brant, já na primeira visita à Manchester Mineira, se mostra apaixonado pela cidade que possui a maior Rua Halfeld do mundo: "orgulhoso ponto de encontro do progresso com a cultura". A terra de Pedro Nava, de
Murilo Mendes, do professor de Brant, o poeta Affonso Romano de Sant'Anna, e do parceiro e amigo Tavinho Moura, passou a ser também afetivamente a terra do poeta, cidadão honorário.
E o próprio Fernando explica: "Sou de dentro por ter amigos, que moram em Juiz de Fora e em minha alma, e são para a vida inteira. Por me sentir em casa, certo de estar pisando um chão que também me pertence. Por ter agregado à minha existência pessoas belas e boas, competentes em várias atividades. Meus amigos de Juiz de Fora são bons poetas e compositores, ótimos médicos e políticos, administradores, professores e jornalistas. Aonde chegam se destacam".
A amizade com Milton Nascimento vem de longa data. No palco do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, ao lado do parceiro Fernando Brant, o jovem cantor, violonista e compositor Milton Nascimento, poucos dias antes de completar 25 anos, nos dias 19 e 21 de outubro de 1967, há quase 45 anos, não poderia sonhar que, a partir de suas três músicas no II Festival Internacional da Canção - "Travessia", "Morro Velho" e "Maria, Minha Fé" -, trilharia uma autêntica travessia rumo a uma das mais significativas trajetórias na Música Popular Brasileira da segunda metade do século XX e do início do século XXI e que se projetaria como um mestre do canto. No livro, Fernando Brant indaga: "Quem diria que o menino Milton de Três Pontas iria, passo a passo, canto a canto, conquistando degraus e, depois de deixar fascinados os seus amigos de Beagá, ser essa voz que comove o país?".
Desde a primeira parceria com Fernando Brant, "Travessia", Milton abriu alas para uma geração de grandes músicos e compositores mineiros e nunca transigiu sua arte, nunca aceitou os apelos fáceis da massificação. Brant, em depoimento exclusivo, afirma que "a música de Milton Nascimento não se explica, ouve-se. Desde que o conheci, e à sua música, o Bituca é um repertório de surpresas interminável. Até hoje, quando ele me mostra algo que acabou de compor, sua genialidade não dá descanso. Ele me surpreende agora como me surpreendia 30 anos atrás. A melodia, o ritmo, a harmonia, ele sintetiza o mundo em suas músicas. Devo a ele não só o fato de encontrar uma profissão que me sustenta e dá prazer, como a oportunidade de colocar minhas palavras e minhas idéias em canções belas e diferentes. E, ainda por cima, ele as canta. Ele é fonte inesgotável da música popular brasileira, um gênio".
Enfim, "Casa aberta" é um convite para se valorizar a vida, a afetividade, a companhia, a felicidade entre e para todos nós. Como um de seus muitos amigos juiz-foranos e mineiros, recomendo a leitura do livro uma vez que Fernando Brant confessa que escrever é um mergulho na prazerosa tarefa de buscar felicidade no universo das palavras.
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Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e produtor cultural. Escreve em jornais de Portugal e do Brasil.

Nova editora prima pela qualidade


Outra novidade agradável é a chegada no mercado da Editora Dubolsinho. Como o próprio nome indica, ela se destina ao público infantojuvenil. Formada, dirigida e mantida por escritores, ilustradores e pessoas que gostam de ler, escrever e desenhar. E como a última capa dos seus livros esclarece, seu objetivo principal é editar bons livros de literatura para essa faixa etária.
O Rei dos Pássaros, O Inventor do Xadrez e o Gato no Mato, todos idealizados e ilustrados pelo escritor e artista gráfico Sebastião Nuvens, comprovam o objetivo da Dubolsinho. Eles são atraentes aos olhos e à mente de quem põe as mãos em qualquer dos títulos citados. Artisticamente arrojados, com capas impecáveis, é difícil passar a vista por um exemplar e não ter vontade de abri-lo e ver de perto do que se trata.
Impresso em papel encorpado, seus projetos gráficos chamam a atenção pela criatividade e beleza das cores. O Rei dos Pássaros, em particular, é dono de uma plasticidade sem tamanho. Todo o livro vem recheado de desenhos de penas, com diferentes matizes de cores e formas, dando uma ideia quase que real da textura dos fios que as compõem.
O tema em si é instigante. Nasceu do resumo do poema oriental Diálogo dos pássaros, escrito no século 12 pelo poeta Farid ud-Din Attar, compactado por Jorge Luís Borges em Nueva Antologia Personal (EMECÉ Editores, Buenos Aires, 1968). “Sem esse denso e profundo resumo, eu jamais teria tentado recriar a grandiosidade do texto original”, revela Nuvens, que na realidade é Nunes. Com pitadas simplificadas de sabedoria oriental, a história conta a jornada que milhares e milhares de pássaros de todas espécies conhecidas do planeta fizeram em busca do seu rei.
Gato no Mato não traz vôos aventureiros, e, sim, felinos numa progressão matemática espantosa. A linguagem é alegre e despretensiosa. Faz o gênero de quem está começando a desvendar os segredos das letras e do método de adição. A parte gráfica é impecável. O mesmo pode ser dito do Inventor do Xadrez. Pensado para leitores que já dominam fluentemente a leitura, o autor usa uma linguagem ágil e engraçada. Ele lançou mão de uma das lendas que falam da criação do xadrez e a atualizou de maneira inteligente e divertida.
Em qualquer das investidas, Sebastião Nuvens soube conduzir com maestria a narrativa. Publicitário, poeta com 10 títulos publicados, atualmente se ocupa a escrever, ilustrar, diagramar e editar. Suas filhas Teresa e Alice, na época com 10 e 5 anos, foram o empurrão que faltava para que se enveredasse pela literatura infanto-juvenil. Em 1999, três anos depois de iniciada esta incursão, dada a dificuldade em publicar seus livros, juntou-se com um grupo de autores, ilustradores e amigos e fundou a Editora Dubolsinho.
 
 
Fonte: JC Online - Caderno C - http://www2.uol.com.br/JC/_2000/2304/cc2304d.htm#top

Fábulas Entortadas, de Israel Jelin






FÁBULAS ENTORTADAS – ISBN 978-85-8109-050-4

Literatura pode ser um ótimo divertimento, capaz de nos abrir os portões para as ambiguidades da vida e do mundo. Principalmente se escrita com bastante humor, muita irreverência e generosas pitadas de ceticismo. O autor destas fábulas é craque em misturar ótima literatura com humor finíssimo. Além de escrever muito bem, é engraçado sem fazer força, transmitindo com ironia e sarcasmo sua visão das coisas, numa gangorra que oscila entre otimismo e pessimismo. Entortadas por seu humor cínico, as vidas de bichos e de homens surgem com extrema clareza diante de nós, exibindo fraquezas, defeitos e, também, muita sabedoria. Jelin não toma partido, deixando que o leitor decida, entre as duas versões que apresenta de cada fábula, qual delas prefere.
Portanto, caríssimo leitor, a escolha é sua.


O autor: Israel Jelin formou-se em Direito e Letras Anglo-Germânicas pela USP, com certificado de Proficiência em Inglês (Cambridge University e Michigan University). Professor de inglês e tradutor, atuou por mais de 30 anos nas mais conceituadas escolas de São Paulo. É autor de uma vasta obra didática e paradidática, inclusive um dicionário Inglês-Português, além de inúmeras traduções.



FÁBULAS ENTORTADAS


Texto: Israel Jelin
Ilustrações: Sebastião Nunes

104 páginas – 14 x 19 cm
Capa a 4 cores, miolo em preto e branco
Preço: R$26,00 / E-book: R$ 16,00